Na minha previsão da temporada coloquei o Los Angeles Clippers como um dos grandes favoritos ao título. Não acho que eles estejam só no grupinho da elite do Oeste, mas que tem calibre para ir a uma final da liga e brigar de igual pra igual com Indiana Pacers, Miami Heat ou qualquer outro que vier de lá. Virei motivo de chacota porque poucos dias depois de ter dito isso, o Clippers foi destruído pelo Lakers na estreia da temporada. Mas apagão a parte, o time acordou depois disso.
Com 7 vitórias e 4 derrotas o Clippers já está lá chegando em Warriors, Spurs e Blazers (quem diria!) no topo do Oeste. E isso com um dos calendários mais difíceis da liga até agora: já enfrentaram Wolves, Thunder, Heat, Rockets (duas vezes), Nets e Grizzlies. Meu palpite, portanto, ainda é prematuro, mas longe de ser piada ou sonho distante. As vitórias sobre o Rockets foram dominantes, e a sobre o Thunder simbólica e mais animadora até aqui.
As qualidades deste grupo são conhecidas, basicamente as mesmas desde que Chris Paul chegou ao grupo há duas temporadas. Defender o pick-and-roll deles é sempre um cobertor curto porque Paul é mestre no arremesso de meia distância, sabe infiltrar e pode achar Blake Griffin ou DeAndre Jordan em uma ponte aérea a qualquer momento. O time também é veloz, sabe usar turnovers dos adversários para criar pontos fáceis. No fim das contas eles já estão no Top 10 em pontos de contra-ataque (8º, 19.7 pontos por jogo), em pontos no garrafão (7º, 43.5 pontos), tem o melhor ataque da NBA em pontos marcados e o segundo melhor em pontos por posse de bola.
Se tem uma coisa onde eles não são grande coisa, pelo menos ainda, é na bola de três pontos. Parte essencial de qualquer equipe (menos o Grizzlies) na atualidade, só tem 34% de acerto do Clippers na atual temporada apesar da contratação de JJ Redick. O ex-Magic acerta 37% dos arremessos dele, mas Jared Dudley (32%), Byron Mullens (30%), Matt Barnes (25%) e Chris Paul (irgh, 23%) não tem ajudado em nada apesar da fama de cada um em ser pelo menos razoável nessas bolas.
Mas pensem bem, se mesmo assim eles fazem ponto a rodo, é bom ficar esperto com os caras. Para se ter uma ideia, até em uma das jogadas menos eficientes do basquete eles estão bem. O famoso ISO, a isolação de um jogador no mano-a-mano, não costuma render muitos pontos nem para os jogadores mais talentosos, mas até nesse tipo de lance o Clippers está com bom aproveitamento: 40% dos lances acabam em pontos, 3ª melhor marca da NBA. Acho que é esse o momento que lembramos que eles tem Jamal Crawford no elenco, né?
O principal segredo para o ataque ultra eficiente é que eles tem arma para quase tudo que se pode fazer numa quadra de basquete. Chris Paul e Darren Collison sabem atacar o garrafão, eles sempre tem pelo menos dois arremessadores de 3 pontos em quadra para ocupar a marcação (apesar do aproveitamento baixo, ninguém deixa um especialista lá sem marcação) e eles fazem tudo isso com velocidade, já que o Clippers é um dos times mais jovens e atléticos da liga. Aliás a capacidade atlética do Clippers está sendo a solução para o grande problema ofensivo deles nos últimos anos, as jogadas de garrafão.
Já cansamos de criticar a falta de evolução de Blake Griffin. Ele é fantástico, mas é o mesmo fantástico que entrou na NBA há anos e anos atrás. Seu arremesso não melhorou tanto assim, o controle de bola não evoluiu, a defesa ainda é uma piada, o timing para os tocos nunca apareceu e por aí vai. Muito talento, faz muita diferença, mas não vemos aquele constante aprendizado que vemos em outros jovens promissores como Derrick Rose e Paul George. Em outras palavras, custa ser o milésimo jogador da história a contratar o Hakeem Olajuwon para umas aulas? Se bem que Dwight Howard e JaValle McGee não parecem exemplos de estudantes que deram certo…
Mas e se eu te contar que dados do SynergySports colocam Blake Griffin como o 9º melhor jogador desta temporada em jogadas de post-up? Sim, Griffin está no Top 10 de aproveitamento quando começa uma jogada no garrafão, de costas para a cesta. E não é que ele é como Anthony Davis, que tenta pouco a jogada, até aqui foram 38 lances em 11 partidas, com 21 acertos.
O segredo do sucesso está nesse vídeo que eu preparei. Separei alguns de seus post-ups nos jogos contra o Memphis Grizzlies e o Brooklyn Nets.
Sacaram o segredo da coisa? É a tal semi-transição que é tão comentada pelos gringos. Não é rápido como um contra-ataque do Phoenix Suns dos bons tempos, mas é um ataque direto, veloz, que às vezes nem passa pela mão do armador, mas que visa colocar a bola no campo de ataque o mais rápido possível. Algum jogador se ocupa de garantir o rebote enquanto Griffin dispara em direção à cesta. Lá, chegando antes, é mais fácil garantir uma posição boa, próxima da cesta e sem risco de marcação dupla. Isso significa que Griffin não vai precisar ler a defesa adversária ou trabalhar muito o seu oponente, basta um ou dos movimentos rápidos e explosivos para ganhar um fácil gancho. Exclui o que ele é ruim, foca no que ele é bom.
Não sei dizer se isso é algo armado por Doc Rivers, mas isso é provável e muito bem pensado. É um jeito de aproveitar a velocidade e o poder físico absurdo de Blake Griffin sem ficar dependendo de pontes aéreas ou enterradas. Todos os times da NBA já sabem que devem impedir espaços para as passadas de Griffin a qualquer custo; todos os jogadores sabem que devem fazer uma falta dura antes de virarem o próximo Mozgov. E bastou isso para Griffin virar mais humano.
Até defendi, um tempo atrás, que de uma hora para outra, DeAndre Jordan virou mais imprescindível para o Clippers do que Griffin. Pensem bem: os dois tem o lado negativo de serem caros e terem péssimos lances-livres. Ambos são igualmente perigosos no pick-and-roll e nas pontes aéreas. Mas Jordan, apesar de suas falhas, faz mais diferença na defesa, inibe infiltrações e se posiciona (um pouquinho) melhor para os rebotes defensivos. Em jogos onde Griffin não conseguia jogar atacando a cesta como gosta, valia mais a pena jogar com vários jogadores baixos e Jordan no meio. Mas vocês devem imaginar a dor de cabeça que daria para o técnico e mesmo dentro do grupo, ficar colocando Griffin no banco em momentos decisivos. Trocá-lo então, nem pensar!
A solução era adaptar o estilo de jogo ao que Griffin sabe fazer e até aqui é isso que tem acontecido. Olhem no gráfico abaixo como Griffin está conseguindo não só bom aproveitamento, mas grande quantidade de arremessos próximos ao aro. Ainda acho que ele insiste muito em arremessos longos de dois pontos, que são péssimos e que ele não sabe fazer, mas acho que não dá pra pedir tudo de uma vez.
Mas se algo está no caminho entre o Los Angeles Clippers e um título é a defesa. O time é o 28º em pontos sofridos por jogo e o 29º em pontos sofridos por posse de bola. Mas o pior número, na minha opinião, é o de rebotes: 27% dos arremessos errados por seus adversários viram uma posse de bola extra devido a um rebote ofensivo.
Separei aqui um outro vídeo do jogo de ontem entre Grizzlies e Clippers, este só com rebotes ofensivos do Grizzlies que viraram cestas imediatas. Em um lance Chris Paul esquece Tony Allen embaixo da cesta e não avisa ninguém, no outro DeAndre Jordan perde de Zach Randolph mesmo chegando mil metros mais alto. Mas acho que nenhum supera o de Kosta Koufos que corre sozinho para o garrafão e não recebe um boxout sequer após o arremesso errado de Mike Miller.
O jogo foi disputadíssimo e muito bem jogado, como costumam ser entre essas duas equipes, mas também foi a quinta vitória seguida do Grizzlies sobre o Clippers se lembrarmos dos Playoffs da temporada passada. Lá, como ontem, o garrafão do Clippers, apesar de seu tamanho e poder atlético, foi esmagado e cedeu cestas importantes demais. Grizzlies não tem bons arremessadores, o Clippers até consegue explorar isso, mas toda a defesa bem feita morre quando o rebote não é assegurado. Sei que estamos falando do Grizzlies, um dos melhores times da NBA no fundamento, mas os números mostram que os erros acontecem sempre.
Para um time ser tão ruim na defesa, existem outros problemas além do rebote. Geralmente times bons defensivos se destacam ou por forçar erros, desperdícios de bola, caso do Memphis Grizzlies; ou se destacam por proteger bem a cesta e forçar arremessos de baixo aproveitamento, caso do San Antonio Spurs. Mas o LA Clippers força poucos erros, é apenas o 22º em turnovers forçados por posse de bola; e é o 3º pior time em aproveitamento de arremesso dos adversários. Atrás só os desastrosos Washington Wizards e Detroit Pistons. Ou seja, contra o Clippers você pode ter certeza que seu time vai ter bom aproveitamento dos chutes e que pouco vai perder a bola. E não se preocupe, se por acaso o arremesso não cair de primeira, grandes chances de rebote cair na sua mão de novo. Como vencer assim?!
É difícil ensinar defesa de um dia pro outro, mas me recuso a aceitar que Blake Griffin e DeAndre Jordan, com a força e explosão que têm, não são capazes de se transforarem em uma dupla pelo menos razoável de defensores. A frente deles, Chris Paul, Matt Barnes e Jared Dudley já provaram que são ótimos defensores individuais, será que o Doc Rivers não consegue implantar alguma comunicação entre eles para que as coisas funcionem também coletivamente? Apesar da base da defesa do técnico em Boston ter sido implementada por Tom Thibodeau, quero acreditar que Rivers não ficava só lá sentado no cantinho comendo Doritos. A boa defesa dos verdes durou anos depois e era a marca do treinador, ele tem a capacidade de treinar um bom sistema defensivo e tem alguns meses para transformar esse grupo em algo mais equilibrado.
Lá na frente as coisas fluem cada vez melhor e brilham até nos dias que as bolas de longe não estão tão calibradas assim. Um pouco mais de atenção nos rebotes, de defesa, especialmente no pick-and-roll e nos passes que vivem cortando o garrafão deles, e aí sim o Los Angeles Clippers entra oficialmente na lista de candidatos ao título. Ficaremos de olho.
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– Não sei se vocês viram no Facebook, mas estou atrás de pessoas que saibam editar vídeos. Estou conseguindo separar alguns vídeos, mas queria fazer com qualidade e com mais recursos. Quem puder ajudar é só entrar em contato.