Olá Márcia-do-RH, segue em anexo a coluna que fiz essa semana para o ExtraTime,
Abs
Denis- Gerente de Procrastinação
…
O San Antonio Spurs é novamente líder da Conferência Oeste e tem a melhor campanha da NBA.
Quantas mil vezes falamos isso nos últimos 15 anos? Mas ao invés de só puxar o saco do time do técnico que menos faz sexo na liga (outra coisa explica o mau humor de Gregg Popovich?), estou aqui para falar do Paradoxo Spurs.
O sucesso do time do Texas desde a chegada de Tim Duncan em 1997 é exemplar, um caso raríssimo na história da NBA. Juntar Duncan e David Robinson e conquistar um título não foi fácil, mas seria uma história comum de êxito. Mas depois disso eles reconstruíram o time campeão de 1999 em um novo, que venceu em 2003. Aí, já sem Robinson, se reinventaram para vencer em 2005 e 2007. Com o envelhecimento de Duncan e a aposentadoria de Bruce Bowen, mais uma vez mudaram tudo e simplesmente não param de figurar entre as melhores equipes da NBA. E embora alguns princípios sejam os mesmos desde sempre, como movimentação de bola e poucas jogadas de mano a mano, nem dá pra dizer que é sempre mesmo esquema. Já tiveram dois pivôs enormes, já jogaram abertos, já foram um dos times mais lentos da NBA e um dos mais velozes.
Mas aí aparece o Paradoxo Spurs: apesar de ser um dos maiores exemplos de sucesso da história da NBA, podemos dizer também que estão entre os times mais fracassados da liga? Ok, talvez não um dos mais fracassados, mas não é impressionante o número de vezes que o San Antonio Spurs chegou aos Playoffs com um dos melhores times e mesmo assim não conseguiu vencer? Os times de 2001, 2004, 2006, 2008, 2011 e 2012 fizeram temporadas dignas de levar o anel de campeão pra casa e todas falharam no meio do caminho. Alguns times, como o que perdeu para Dallas Mavericks em 2006 e o que foi derrotado pelo Memphis Grizzlies em 2011 eram claramente melhores que seus adversários.
Na temporada passada o San Antonio Spurs foi o melhor time da temporada regular, o que melhor conseguiu conservar seus jogadores durante o calendário insano causado pelo locaute. Também tinham mando de quadra contra todo mundo, sem contar o entrosamento quase sexual entre seus jogadores e a experiência em momentos difíceis nas costas de Popovich, Duncan, Manu Ginóbili e Tony Parker. E o que aconteceu? Foram atropelados pelo Oklahoma City Thunder, um time de pirralhos que, depois de perder os dois primeiros jogos, tomou conta da série e da Conferência Oeste.
Não é nenhuma vergonha perder para esse Thunder, assim como para o Lakers de 2004 e 2001. Mas são muitos fracassos para um time tão bom e tão preparado. E não uso o Paradoxo Spurs para falar mal do time, longe disso, acho que ele simplesmente prova uma coisa que às vezes é desvalorizada por alguns críticos, o quanto é difícil vencer um título da NBA.
Muita gente mandou um “assim até eu” após os títulos do Boston Celtics em 2008 ou do Miami Heat na temporada passada. Afinal, juntando estrelas é apelação, né? Pois está aí o San Antonio Spurs, que tem um trio de estrelas há anos, que tem o melhor técnico da atualidade, que tem união, ambiente saudável, uma torcida que apoia e a diretoria que melhor sabe contornar e evitar crises. E mesmo assim eles perdem uma atrás da outra nos Playoffs.
Para essa temporada, nenhuma surpresa. O Spurs está ainda melhor que no ano passado: Stephen Jackson e Boris Diaw, incorporados ao elenco no meio do último ano, estão mais entrosados, o que faz muita diferença num elenco que não deixa a bola nunca parada. As assistências de Diaw são um show à parte. Seus passes precisos combinados com uma atitude meio esnobe e preguiçosa, além da pança, é digna dos camisas 10 que só brilham em clubes médios e se alimentam de potencial. E não foram só eles que melhoraram, Danny Green parece mais confiante, Gary Neal é confiante até mais e DeJuan Blair parece mais conformado com seu papel na equipe.
Outros que impressionam são Kawhi Leonard e Tiago Splitter, que explicam o motivo do Spurs estar sempre no topo. Ao invés de fazer como outros times, que trocam,
dispensam ou deixam de lado jogadores limitados, eles trabalham os seus atletas até que se tornem úteis. Transformaram Leonard, um especialista em defesa, numa ameaça ofensiva após treinamento intensivo durante toda a offseason. E Splitter, aquela vergonha dos lances-livres, agora acerta 75% de seus arremessos e com paciência aprendeu a jogar ao lado de Tim Duncan. Existe algum jogador que piorou depois de ir para o San Antonio Spurs? Só lembro do estranho pivô Jackie Butler há muitos anos.
Uma das razões para o Spurs brilhar mesmo quando Tim Duncan e Manu Ginóbili são poupados é a precisão do resto do elenco nos passes e nos arremessos. Eles sabem o que fazer, como fazer, quando fazer e não se intimidam. Mas na série contra o OKC Thunder no ano passado isso, de repente, sumiu. Caras como Danny Green passaram a errar chutes que não erravam, o que forçou o Spurs a apelar demais para a individualidade de suas estrelas, quebrando todo esquema de Popovich e facilitando a marcação daqueles monstros atléticos de Oklahoma.
Será que um ano a mais de experiência e mais um fracasso fará a diferença para esses caras? Confiamos na regularidade de Tim Duncan e colegas, mas talvez esteja nas mãos dos coadjuvantes a chance de conseguir acabar com a seca do time que não é campeão desde 2007. Aliás, podemos chamar de seca? Ou só podemos chamar de seca por se tratar do San Antonio Spurs? Não ganhar mais até a aposentadoria de Pop e Duncan fará essa regularidade sem títulos ficar como na história, uma insistência fracassada ou um exemplo de sucesso e paciência? O Paradoxo Spurs é confuso.